Tomé
o Aleijadinho
No alto de uma casa de cômodo ficava o quarto escuro e miserável
onde morava um menino aleijado. Seus pais morreram quando ele ainda
era menino pequeno, deixando-o a misericórdia de “vovó”, uma
parenta velha. Ele nasceu aleijado e sempre sofria. Durante uns anos
podia trabalhar como jornaleiro, mas aos poucos piorava até não
poder mais andar. Vovó não fez nada para tornar a vida agradável
para Tomé. Ela estava sempre de má vontade e às vezes era mesmo
cruel para ele. Tomé, porém, sofria com paciência, e era
agradecido a todos quantos o ajudavam.
Sua mãe o tinha ensinado a ler e escrever. Às vezes o levava para o
culto evangélico, onde falavam de Jesus e Seu amor. Sentado em sua
cama dia após dia, Tomé teve vontade de conhecer mais acerca das
coisas de Deus e de possuir uma Bíblia. Porém, não tinha dinheiro
e sabia que Vovó não iria comprar tal coisa.
Um dia, pelas velhas escadas, veio barulhento João Souza, o único
amigo que Tomé possuía.
- Vou para o norte amanhã. Vim dizer-lhe adeus, Tomé. – João
falou todo excitado, sentando-se na beira da cama e enxugando o suor
da sua testa. – Trouxe para você um presente. – E ele tirou de
seu bolso alguma coisa embrulhada num papel marrom. Tomé levantou-se
nos seus cotovelos, triste ao ouvir estas notícias.
- Olhe Tomé, trouxe vinte reais para você. Você precisará
gasta-lo por alguma coisa muito particular.
- Oh João, você é bom! E há uma coisa que quero muito, muito
particular.
- O que é?
- Quero uma Bíblia.
-Uma Bíblia! Quem já ouviu falar de um pobre aleijado que gastou
todo seu dinheiro numa Bíblia. Eu trabalhei uma semana para ganhar
esta quantia.
-Não se zangue João. – disse Tomé. – Você vai embora, e eu
vou ficar mais sozinho que nunca. Desejo tanto ter uma Bíblia. Por
favor, compre-a João, ainda esta tarde, no salão da missão, onde
eles falam sobre Jesus e onde ás vezes nós freqüentávamos.
- Muito bem eu irei; mas não sei nada sobre compra de Bíblia.
Mas tarde ele voltou trazendo uma bonita Bíblia.
- Estou muito contente agora – disse Tomé. – Você foi muito
amável.
Os meninos nunca mais se encontraram.
Depois dele haver lido a Bíblia durante um mês, Tomé conhecia-a
melhor de que muitas pessoas e professoras que haviam estudado vinte
anos. Ele aprendeu o caminho da salvação. (o professor deve
explicar aqui o caminho da salvação), e logo creu no Senhor Jesus
como seu Salvador. Como o coração dele mudou. Pois agora Tomé
tinha um bom Amigo!
Não está certo guardar só para mim estas novas abençoadas. –
pensou Tomé. Sua cama ficava perto da janela, que era baixa. Ele
conseguiu um lápis e tiras de papel e escrevia diferentes versículos
da Bíblia. Depois ele dobrava o papel e, depois de orar, jogava-o
pela janela para a rua movimentada. Ele fez isto durante muitas
semanas. Finalmente, uma tarde ele escutou passos estranhos na
escada, e logo, um senhor bem vestido entrou no quarto e sentou-se ao
lado da cama.
- É você que atira versículos pela janela? – o homem perguntou
gentilmente.
- Eu peguei um a tarde passada, e venho agradecer-lhe.
- O senhor não deve agradecer a mim. Eu apenas escrevo; Deus é quem
abençoa.
- E você está contente neste trabalho para Cristo? – perguntou o
visitante.
- Não poderia estar mais contente, senhor. Não sinto a dor nas
minhas costas assim como antes e, quando eu vir o Senhor Jesus,
ficarei alegre em ter podido servi-LO. Suponho que o senhor tem
muitas oportunidades para servi-LO.
- Sim, porém as tenho perdido. Se Deus me ajudar começarei
novamente. Deixei em casa um filho doente. Quando me despedi, ele
disse: “Papai, quero trabalhar para Jesus. Não quero encontrá-LO
de mãos vazias.” Estas palavras ficaram nos meus ouvidos todo o
dia e á tarde, quando passei por esta rua, e peguei o papelzinho. O
versículo era João 9:4 “Convém que eu faça as obras daquele que
me enviou, enquanto é dia; a noite vem quando ninguém pode
trabalhar.” Parecia uma ordem do céu. Professei minha fé há 22
anos, e agora que sei quem é o autor dos papeizinhos, sinto-me
envergonhado. Estou pronto a ir para casa e trabalhar para o Mestre.
Vou começar tornando a sua vida mais alegre. Você gostaria de morar
em uma das casas para meninos aleijados, vendo árvores e ouvindo
pássaros?
O menino fraquinho olhou longamente para o rosto bondoso do
visitante, e depois respondeu:
- Muito obrigado senhor. Já ouvi falar dessas casas, mas prefiro
continuar neste trabalho até que o Senhor venha me buscar. Será
muita alegria para um menino como eu ter um palácio com Ele no céu
eternamente.
O visitante ficou ainda mais envergonhado.
- Muito bem, menino. Então providenciarei para que você tenha boa
alimentação e bastante papel enquanto viver. Falarei sobre isto com
uma das senhoras da Sociedade Bíblica.
O homem despediu, e antes de deixar a cidade, arranjou tudo conforme
prometera. Foi sua casa viver para Cristo. Construiu uma sala de
cultos no seu terreno, e pregava Cristo aos moradores próximos.
Quando o inverno chegou, eles ouviram a notícia que o aleijadinho
estava com Jesus. O correio trouxe um pacote contendo a Bíblia muito
usada de Tomé. O filho mais moço daquele senhor, ao folhear as
páginas, leu na margem uma oração que Tomé escrevera pouco antes
de morrer: “Que este Santo Livro seja para os outros tão bom amigo
quanto foi para mim.” Isto deixou profunda impressão no jovem, e
deu-se a si mesmo a Deus. Depois de alguns anos, ele foi chamado para
a África como missionário. Lá ele mostrou aquela Bíblia usada e
contou acerca de Tomé o aleijadinho e como ele dava testemunho pelos
versículos escritos.
Meninos e meninas salvos, o que estão fazendo para ganhar almas para
o Senhor Jesus? Se um aleijadinho sofrendo e a ponto de morrer, podia
dar tão belo testemunho assim, não devemos nós fazer alguma coisa
mais do que já fizemos?
(Veja Gálatas 6:14; II Coríntios 5:10).